quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Caminhos para o vinho português


No final de 2010 foi organizado na Alfândega do Porto um evento internacional, com a presença de alguns dos mias importantes wine writers a nível mundial. Tinha como objetivo a divulgação da nossa Touriga Nacional e consequente promoção de Portugal e dos vinhos portugueses.
Escreve Manuel Carvalho, na Revista de Vinhos de Outubro, que é mais um exemplo da inconsequência das iniciativas portuguesas, que têm sempre muitos a falar, mas depois fazer … Não podia estar mais de acordo e também não podia estar mais de acordo quando diz que a Touriga Nacional, salvo raras exceções, não brilha sozinha. De fato, não me lembro de muitos vinhos só de Touriga Nacional, que me tenham impressionado. Eles têm no entanto de irem sendo feitos, não só para percebermos como evolui, mas também porque de vez em quando atinge patamares de verdadeira excelência e estou e lembrar-me de um vinho da Quinta do Crasto de 2001 que era absolutamente notável, mas também da Quinta do Vallado que viu muito recentemente o seu TN ser pontuado com 95 ou 96 pontos pela Wine Spectar ou do brilhante TN do Alentejo produzido pela Cortes de Cima, salvo erro em 2003.
Usando a Argentina como exemplo maior, que com a sua Malbec, vai trilhando um caminho de sucesso, defende para Portugal a mesma estratégia, usando nós a Touriga Nacional. Não podia estar mais em desacordo!
A Argentina, como todos os chamados países do novo mundo do vinho, tem o seu território coberto essencialmente por meia dúzia de castas e depois tem mais meia dúzia a ocuparem uma área irrisória para irem realizando pequenas experiências. Portugal tem mais de trezentas castas e está com a Itália destacadíssimos no topo de países com mais castas autóctones.
A diferença dos vinhos na Argentina existe mais pelos produtores que pelas regiões. Em Portugal existem claras diferenças entre os vinhos oriundos de diferentes regiões com as devidas exceções, é claro.
Se se montasse uma estratégia de promoção dos vinhos baseado na lógica dos países do novo mundo, rapidamente se perderiam grande parte deste património, pois para responder aos pedidos de vinhos Touriga Nacional seria necessário enxertar grande parte dos nossos vinhedos. Não esquecer que se fala muito nesta casta, dos rótulos nem se fala, mas a verdade é que não há uma única região onde esta casta seja maioritária, longe disso.
O Manuel Carvalho também apela ao fim desta estratégia, que defende mas que poderá ser um entrave se não for definida uma nova estratégia e essa a meu ver não poderá ser outra que não a francesa. Para não haver problemas de perda de identidade nas regiões e de vinho em quantidade, vendam-se as regiões, colocando o nome das regiões com maior destaque que o dos produtores, como faz e bem a Borgonha, ou Chateuneuf du Pape, ou Côtes du Rhônne, etc. É um trabalho lento? É. Difícil? Sim. Impossível? Não. Temos vinhos com qualidade suficiente para seguir este caminho, que defenderia a nossa identidade e a prazo elevar de uma forma exponencial o valor dos nossos vinhos.

Hildérico Coutinho
Escanção do Restaurante Luanda Grill
hilderico@gmail.com