No final de 2010 foi organizado na Alfândega do
Porto um evento internacional, com a presença de alguns dos mias importantes wine writers a nível mundial. Tinha como
objetivo a divulgação da nossa Touriga Nacional e consequente promoção de
Portugal e dos vinhos portugueses.
Escreve Manuel Carvalho, na Revista de Vinhos de
Outubro, que é mais um exemplo da inconsequência das iniciativas portuguesas,
que têm sempre muitos a falar, mas depois fazer … Não podia estar mais de
acordo e também não podia estar mais de acordo quando diz que a Touriga
Nacional, salvo raras exceções, não brilha sozinha. De fato, não me lembro de
muitos vinhos só de Touriga Nacional, que me tenham impressionado. Eles têm no
entanto de irem sendo feitos, não só para percebermos como evolui, mas também
porque de vez em quando atinge patamares de verdadeira excelência e estou e
lembrar-me de um vinho da Quinta do Crasto de 2001 que era absolutamente
notável, mas também da Quinta do Vallado que viu muito recentemente o seu TN
ser pontuado com 95 ou 96 pontos pela Wine Spectar ou do brilhante TN do
Alentejo produzido pela Cortes de Cima, salvo erro em 2003.
Usando a Argentina como exemplo maior, que com a
sua Malbec, vai trilhando um caminho de sucesso, defende para Portugal a mesma
estratégia, usando nós a Touriga Nacional. Não podia estar mais em desacordo!
A Argentina, como todos os chamados países do
novo mundo do vinho, tem o seu território coberto essencialmente por meia dúzia
de castas e depois tem mais meia dúzia a ocuparem uma área irrisória para irem
realizando pequenas experiências. Portugal tem mais de trezentas castas e está
com a Itália destacadíssimos no topo de países com mais castas autóctones.
A diferença dos vinhos na Argentina existe mais
pelos produtores que pelas regiões. Em Portugal existem claras diferenças entre
os vinhos oriundos de diferentes regiões com as devidas exceções, é claro.
Se se montasse uma estratégia de promoção dos
vinhos baseado na lógica dos países do novo mundo, rapidamente se perderiam
grande parte deste património, pois para responder aos pedidos de vinhos Touriga
Nacional seria necessário enxertar grande parte dos nossos vinhedos. Não
esquecer que se fala muito nesta casta, dos rótulos nem se fala, mas a verdade
é que não há uma única região onde esta casta seja maioritária, longe disso.
O Manuel Carvalho também apela ao fim desta
estratégia, que defende mas que poderá ser um entrave se não for definida uma
nova estratégia e essa a meu ver não poderá ser outra que não a francesa. Para
não haver problemas de perda de identidade nas regiões e de vinho em
quantidade, vendam-se as regiões, colocando o nome das regiões com maior
destaque que o dos produtores, como faz e bem a Borgonha, ou Chateuneuf du
Pape, ou Côtes du Rhônne, etc. É um trabalho lento? É. Difícil? Sim.
Impossível? Não. Temos vinhos com qualidade suficiente para seguir este
caminho, que defenderia a nossa identidade e a prazo elevar de uma forma
exponencial o valor dos nossos vinhos.
Hildérico Coutinho
Escanção do
Restaurante Luanda Grill
hilderico@gmail.com