quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Ivy League - O Dia XXII - A Crónica

Jean Boillot & Fils Beaune Les Epenottes 1er Cru 2001 – Jorge Silva

Meruge Tinto 2004 – Pedro Sousa

E. Guigal Condrieu 2008 – Jogador 1 do Alexandre Braga

Fontanafredda Roero Arneis Pradalupo 2009 – Jogador 1 do Orlando Costa

VZ 2008 – Hildérico Coutinho

Bodegas Mauro Terreus 2006 – Isabel Braga

Quinta do Mouro Rótulo Dourado 2006 – André Antunes

Gaja Promis 2005 – Jogador 2 do Orlando Costa

Ceretto Barolo Chinato – Jogador 2 do Alexandre Braga

Porto Vintage Graham's 2000 – Jogador 1 do Rui Freitas

Porto Vintage Graham's 1994 – Jogador 2 do Rui Freitas


Entrada

Magret de pato laminado com mozzarella de búfala e tomate marinado em cama de endívea

Prato de peixe

Calzone de bacalhau, salpicão, espinafres, azeitona e pimentos

Prato de carne

Bife do lombo com foie gras

Sobremesa

Chocolate surpresa

Desta vez o Rui não se pode queixar do nível dos acompanhantes dos seus jogadores e teria mesmo perdido o jogo não fora ter trazido um jogador extra de um ano que só vem confirmando o que digo há já uns anos, de 1994 ser o melhor ano dos últimos 30 anos no que aos Vintage diz respeito. De facto e apesar de 2000 ter sido um belíssimo ano para Vintage e do Graham’s se ter apresentado muito bem (3º lugar) graças também aos mimos bem dados pelo treinador, que os decantou como deve de ser, na temperatura e no tempo (Quem sabe, sabe! Não é Rui?) a verdade é que o nível que o 1994 apresentou é, a meu ver, inalcançável para o 2000. O 94 é um verdadeiro chocolate líquido e podem dizer-me que seria mais barato beber chocolate líquido e eu contraponho dizendo-vos que se os amantes de chocolate soubessem do nível a que poderia chegar o chocolate líquido iam a correr comprar estas garrafas todas… E eu até tenho uma no restaurante…

E dizia eu que não fora o 94 e quem teria ganho teria sido a Isabel, que apresentou um jogador pontuado com 98 pontos pela Wine Advocat do Robert Parker e mesmo com a recente polémica em torno do crítico desta revista que tinha a responsabilidade de provar os vinhos espanhóis a verdade é que só um vinho espanhol tinha até esta altura sido pontuado com mais, um Unico Reserva Especial do mítico Vega Sicilia que obteve 99 pontos. Foi, curiosamente, ou talvez não, nas Bodegas Veja Sicilia, que Mariano García trabalhou como enólogo durante trinta anos e de onde saiu em 1998 para criar uma série de vinhos famosos como é o caso dos Mauro, San Román ou Aalto. E se conhecem estes vinhos perceberão o que querem dizer quando dizem que este é provavelmente o vinho mais excelso deste enólogo. Foi um dos melhores, se não o melhor Tempranillo que bebi até hoje e apenas mantenho alguma dúvida em relação ao Alabaster 2007 da região de Toro. Este vinho apresentou-se com uma doçura incrível e incrível foi também não se ter tornado enjoativo, que seria o mais normal num vinho assim, mas a frescura que conseguia ter, mesmo sem se notar à primeira, fez toda a diferença. Só o Orlando é que não gostou deste vinho tendo-o votado em 8º lugar.

Em quarto lugar ficou o jogador 2 do Orlando, um Gaja catalogado como um super-tuscano, não por ser super caro, mas por ser elaborado com castas não autorizadas na região, neste caso Merlot (55%), Syrah (35%) e a local Sangiovese (10%). Eu também o classifiquei em 4º lugar apesar de não ser um fã da Merlot, mas este vinho tinha algo mais que o estilo pesadão e com pouca acidez que os caracteriza, seja pela frescura que a Sangiovese lhe terá emprestado seja pela complexidade aromática e estrutural da Syrah.

Em quinto lugar ficou o VZ, que de facto só consigo apreciar com pelo menos três anos em cima, depois de incorporar o excesso de madeira que apresenta enquanto novo. Está neste momento num belo momento apresentando as notas fumadas bem amparadas pela mineralidade e doçura que apresenta, que parece vir do álcool apesar dos seus 12,5%, um valor modesto neste estilo de vinhos.

Em sexto ficou o borgonhês, em quem o Jorginho certamente depositava muita esperança, mas a verdade é que não encantou, seja por este grupo ainda não ter paladar para os compreender plenamente seja por ele não ser brilhante. Estaremos no entanto sempre prontos a tentar gostar…

Depois veio o branco italiano, considerado como o terceiro melhor vinho por dois dos participantes e que eu confundi com o Viognier francês. Como é possível? Não a confusão, mas o facto de não ter detectado Condrieu que acabou por ficar no lugar seguinte e que de facto apresentava os típicos aromas a pêssego, mas tão suaves notas e tão pouco gorduroso na boca que me enganou completamente. O italiano, por sua vez, é elaborado exclusivamente com a casta Arneis, originária de Roero, mais uma para o nosso curriculum, que desconhecíamos por completo e por isso apenas ficámos com um vislumbre do que poderá ser. Apenas vos posso acrescentar que é usada por vezes para amaciar os Nebbiolo e que talvez por isso seja conhecida como Barolo Bianco.

Já me esquecia de comentar um dos vinhos elaborados por um dos enfant terrible do Alentejo, Miguel Louro de seu nome, médico dentista de profissão e certamente um pesadelo para os enólogos que consigo trabalham na Quinta do Mouro. Este Rótulo Dourado, elaborado com Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon pretende ser um, senão o melhor vinho deste produtor, mas desta feita foi relegado para o 9º lugar geral apesar de ninguém o ter colocado abaixo do 8º. Curioso não é? A explicação é simples, apenas dois, o André e o Orlando lhe deram classificação razoável, 3º e 4º lugar respectivamente, enquanto todos os restantes o classificou abaixo do 6º.

Em décimo uma pequena desilusão, pois costumamos gostar muito do Meruge, mas desta feita além de já estar em queda ainda apresentava um aroma que esta mesa não suporta, couro suado…

Para o último lugar foi relegado o vinho que quase serviu de inspiração para abrir esta crónica, dizendo que fiquei todo “chinado”, mas depois achei que era dar demasiado valor a uma espécie de vinho que é elaborado de uma forma que não será muito diferente da utilizada no vermute, com a adição ao vinho, que tem de ser um Barolo DOCG, de uma mistela feita por álcool que esteve a macerar com uma dúzia de ervas, açúcar e a casca de uma árvore dos Andes, conhecida por Cinchona ou Quina. Estão a ver a ligação? Quina? Quinino? Percebem como fica a coisa? Entre o doce do vinho e do açúcar e o amargo do quinino? Só um italiano para estragar um vinho tão bom como o Barolo com esta mixórdia, ou então é para recuperar o estilo Barolo até meados do século XIX, que era doce por as uvas serem apanhadas muito tarde, devido a uma tardia maturação, e quando fermentavam, em Novembro ou Dezembro, o frio impedir a fermentação total. As coisas que se aprendem por escrever estas crónicas…

Parabéns ao Pedro Sousa por ter acertado em 6 dos 8 vinhos que foram servidos às cegas, já que pelo vinho que trouxe não o posso parabenizar.

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