Apresentemos então os jogadores em prova pela ordem de serviço e como poderão verificar, os que escolheram vinhos para a lampreia fizeram-no de uma forma algo conservadora, eu e o André arriscamos um pouco e…
Murganheira Vintage 2004 (Pinot Noir) -- Alexandre Braga
Segura Viudas Brut Reserva Heredad -- Vitor Pinheiro
Ante AEQUINOCTIUM Veranum Grande Reserva 2010 -- Orlando Costa
Soalheiro Reserva Alvarinho 2008 -- Isabel Braga
Afros Vinhão 2009 -- Jogador 1 do Luís império
Vinha Paz Reserva 2009 -- Hildérico Coutinho
Poeira 2003 -- Jorge Silva
Xisto 2004 -- André Antunes
Qta do Vallado Sousão 2009 -- Jogador 2 do Luís império
Porto Colheita Branco Krohn 1964 -- Miguel Braga
Antes de responder à questão deixada subliminarmente falemos dos espumantes e dos brancos que serviram para acompanhar uns acepipes e a entrada propriamente dita. Desta vez foi possível servir todos (ou quase, pois o Porto era filho único) os vinhos em prova cega pois existiam sempre pelo menos dois vinhos passíveis de ser confundidos, algo que aliás eu comecei por exemplificar muito bem, falhando a identificação dos quatro primeiros vinhos, ou seja, falhei onde parecia ser mais fácil. O que me valeu, para não sair dali completamente descredibilizado (já consigo ouvir algumas vozes, como se do além viessem, mas quem é que lhe disse que ele tem alguma credibilidade?!), foi ter acertado os cinco tintos e assim apenas o Luís e o Jorge conseguiram melhor com 7 tiros certos. Suspeito que o Jorge poderia ter conseguido o pleno não fosse… O vinho! Só assim se explica as gatafunhas que escreve e me impedem, quase sempre, de utilizar as suas notas na contabilidade final. O Orlando também poderia ter conseguido o pleno, mas ao deixar-se ficar para trás, para escrever o nome dos vinhos foi desclassificado. Aqui a justiça é na hora e mai nada!
Ambos os espumantes se apresentaram em bom plano, algo que aliás não surpreende por se tratar de topos de gama de casas que produzem milhões de garrafas. No cômputo geral foram no entanto relegados para o 7º e 8º lugar, com ligeira vantagem para o cava, que eu confundi por achar mais fresco e com uma acidez mais vibrante, outros acharam o contrário e acertaram, por isso, o que posso dizer é que de facto apreciei mais o cava.
Dos brancos em confronto, toda a gente preferiu o Soalheiro (3º) ao bairradino com pretensões (9º) e eu confundi-os, não porque esperasse que este fosse melhor, mas por achar ter reconhecido o Soalheiro, quando bebi o primeiro branco. Tinha bebido o Soalheiro 2010 no dia anterior e parecia-me claramente a mesma linha. Devia ter dado mais importância à questão da acidez e mineralidade do Soalheiro, mas a verdade é que pensando bem, um vinho branco da Bairrada, feito de Bical, Arinto e Chardonnay bem podia ter essas características mais intensas. Não acham?
O primeiro vinho a ser servido e que não enganou ninguém, foi o vinho da casta que se costuma aconselhar para acompanhar a lampreia, Vinhão ou Sousão no Douro, de um produtor que tem sido aclamado lá fora primeiro, Jancis Robinson, depois cá dentro, pelas diversas revistas da especialidade. As classificações que lhe atribuímos não deixam muita margem para discussões, ficou em 10º e último lugar. Apresenta acidez e taninos a mais para a lampreia foi a opinião generalizada e nem o Luís que se mostrou um apaixonado da casta lhe deu melhor que um 5º lugar. O 3º lugar que o Alexandre lhe deu não conta, pois ele devia estar num dia zen e deu quatro primeiros lugares e três segundos lugares! Alguns poderão estar a pensar que a lampreia não estaria de acordo com os cânones habituais. Não caiam nessa, pois tínhamos uma comensal (escusado referi-la), especialista na matéria e devoradora da espécie há já várias décadas! Quem diria, de tão jovem se apresenta! E que garantiu não comer uma assim faz tempo!
O outro vinho da casta, oriundo do Douro, foi o último tinto a ser servido e acompanhou por isso o arroz. As avaliações positivas da crítica foram neste caso confirmadas pelo Alexandre que o considerou como o melhor dos tintos, muito pela ligação com o prato que achou perfeita e pelo Luís que o elegeu como vinho da noite! Em termos gerais ficou em 6º lugar, achando eu que um pouco mais de tempo em madeira, não lhe faria mal nenhum. O estilo da casta é inconfundível suavizado pelo calor do Douro.
Dos restantes tintos, aquele que estava a arriscar mais era sem duvida o André, pois o Xisto é um vinho do Douro, mas 2004 foi um ano quente e o estilo não é propriamente o da elegância. De facto o vinho mostrou-se, na minha opinião, um pouco cansado, ou seja, com falta de frescura e exuberância, mas ainda assim foi muito apreciado pelo André e pelo Orlando com este a considerá-lo mesmo como o melhor tinto, dando-lhe o terceiro lugar geral.
O Jorge ao trazer o Poeira arriscou pouco, mesmo tendo sido 2003 um dos anos mais quentes da década, por ter origem em vinhas voltadas a norte e apresentar por isso sempre uma acidez acima do normal. Não se deu mal, conseguiu o 4º lugar geral, que foi a classificação que 5 dos 7 votantes lhe deu, pois além do inelegível Jorge, também o Vitor resolveu ter um ataque de timidez e recusou-se a votar. O vinho apresenta de fato aquela acidez típica que me permitiu reconhecê-lo, com taninos ainda muito sólidos e pronto para andar mais meia dúzia de anos sem problemas.
Eu arrisquei muito mais, em primeiro lugar por não conhecer esta colheita e em segundo por apostar num vinho que eu sabia ser mais suave e de taninos mais redondos, mesmo esperando por uma acidez suficientemente forte para que o vinho se apresentasse fresco. Acertei! O vinho tinha tudo isso e melhor, ligou lindamente com a lampreia, pois a acidez foi suficiente para aguentar a acidez do vinho utilizado na sua confeção e para limpar o palato da gordura da bicha. A doçura ajudou e permitiu que as notas de cacau aparecessem num equilíbrio notável. Pode ser que por ter vindo depois do Afros este Vinha Paz me tenha sabido tão bem, mas a verdade é que na altura me pareceu um necessário e salutar docinho. Segundo lugar geral e só o Orlando, um filho do Dão, o castigou com um quinto lugar. Como é aquela, santos da casa?
Creio que no entanto que fica aqui demonstrado que aquela teoria de que a melhor companhia para a lampreia é o vinho verde tinto não passa disso mesmo, uma teoria…
Para o fim e para terminar em beleza veio mais um Porto vencedor, como sempre deveria ser, com um Colheita Branco de 64 a mostrar o que andam a perder as maiores casa de Vinho do Porto ao não procurarem estas relíquias, já que de acervo próprio não devem ter muita coisa. Já bebemos melhor da casa Dalva, mas a Krohn, que não sabe fazer maus tawnies mostra aqui com este branco velho, engarrafado em 2010, que essa tendência se mantém intacta! O aspecto, porventura mais educativo desta prova, é o de verificar que se fosse tinto e tivesse 46 anos de casco, o mais provável era estar já muito doce, provavelmente com um vinagrinho bem evidente e com alguma falta de frescura. Não seria necessário dizê-lo, mas este não tinha nada disso e ainda pede mais tempo de barrica. Notável!
Acabo esta crónica fazendo dizendo que a próxima jornada será na quarta-feira, dia 21 de Março, tendo desta vez por convidado o Pedro Araújo da Quinta do Ameal e teremos por isso uma sessão dedicada aos brancos onde estarão misturados alguns dos vinhos deste aclamado produtor.
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