Entrada
Queijo e doce de cereja branca em processo criativo do Chef Motinha
Primeiro Prato
Chanfana de coelho
Segundo Prato
Alcatra maronesa com risotto de pimenta verde
Sobremesa
Terrina de chocolate e copo negro com mousse de manga
Data: 14 de Julho de 2011
Hora: 20h00
Preço: 30,00€
A CRÓNICA:
O jantar desta vez correu de forma diferente e sob sugestão do Império (quem pode recusar a tal entidade?) os vinhos foram servidos duplamente às cegas, isto é, os que foram assim servidos foram-no sem indicação nenhuma a não ser o prato que deveriam acompanhar. Infelizmente aí houve alguns tiros na água, algo que veio dificultar ainda mais a nossa já difícil vida.
Mas comecemos por identificar os jogadores e respectivos seleccionadores:
Murganheira Millésime 2004 | Extra do Alexandre Braga |
Kracher Muskat Ottonel Trockenbeerenauslese Nummer 1 2007 | Alexandre Braga |
Alzamora Grand Reserve Malbec 2002 | Miguel Braga |
Tapada de Coelheiros 1996 | Hildérico Coutinho |
Aurius 2003 | Luís Império |
Villa de Corullón 2005 | João Romualdo |
Alzamora Grand Reserve Syrah 2002 | Isabel Braga |
Quinta Vale D. Maria 2006 | Pedro Sousa |
Casa Lapostolle Cuvée Alexandre Merlot 2000 | Orlando Costa |
Kopke 10 Anos (engarrafado em 1982) | Extra do Luís Império |
Os dois primeiros vinhos, assim como o último, foram servidos às claras e o espumante extra deve-se à sede que costuma acometer a alguns dos convivas destes jantares. Quem é que dizia que era vinho a mais?
Se do primeiro não há muito a dizer, a não ser que foi bom para início de hostilidades, o mesmo não se pode dizer do segundo, um vinho intenso com aromas à Botritys, vibrante, guloso a desejar mais doçura naquela entrada que estava deliciosa mas alguns pontos abaixo do vinho. Este Kracher, elaborado com 100% desta casta de moscatel branco, também conhecida pelo nome de Muscat Rose à Petit Grains, é um dos vinhos de topo deste produtor austríaco incluído na gama Kracher Collection e só foi pena não termos provado desta colecção de 2007 o Scheurebe, que é uma casta pela qual sinto um fascínio incrível, mesmo se só a provei um par de vezes. Talvez para a próxima, não é assim meu caro Alexandre?
Os dois primeiros tintos, que acompanharam o coelho e deveriam ter tido a companhia de outros e o Malbec ficaria provavelmente melhor com a vaca, foram por mim facilmente identificados por saber que o meu só poderia ser o segundo e o primeiro alguém ventilou a origem ... Vitória nesta poule para o alentejano sem contudo encantar ninguém, até por que o couro chateia bastante o pessoal, mesmo sabendo nós que nesta altura era quase impossível não ter. Não deixa de ser curioso o facto de ninguém, dos quatro que tentaram comigo acertar nos vinhos, ter colocado aquele vinho no Alentejo. Dois colocaram-no no Dão, um no Douro e o Pedro, que esteve mais perto, falou em syrah e aragonês. Já o Argentino foi colocado por três na Bairrada e o Orlando colocou-o no Douro, algo que a meu ver tem mais a ver com esta casta.
Na poule seguinte, estavam também os melhores da noite e a vitória coube sem dúvida ao estilo Douro, já que o vencedor foi o Vale D. Maria, que apenas foi erradamente classificado pelo Império (estas entidades também erram!) e o segundo foi um vinho da Estremadura (agora chamam-lhe Lisboa) com o blend típico do Douro, o Aurius 2003. A realçar de facto o Vale D. Maria que se apresentou muito bem equilibrado entre doçura e taninos fortes mas sedosos, com profundidade de boca e sabores a frutas negras e chocolate. Delicioso! Eu comecei por apostar no Douro e depois fui para um Syrah no vinho do Eng. Bento dos Santos. O do Van Zeller adivinhei sem dificuldade, já que alguém falou antes do tempo que iria estar presente.
O Alzamora Syrah ficou em terceiro lugar e está bem. De tal modo me parece didáctico que acertei na casta mas errei no país. Apostei na Austrália.
O Merlot argentino foi o terceiro classificado e, no meu caso, foi um tiro ao lado. Contudo, acho que tenho aqui algumas atenuantes, já que não é a primeira nem a segunda vez que vejo um Merlot com os aromas e sabores do pimento verde, típico da Cabernet Sauvignon, que tinha sido a minha aposta e não sendo australiano, a minha aposta, é de um país do novo mundo, o Chile.
O Corullón ficou em 5º lugar e foi para mim uma surpresa completa. Desde a classificação à forma como se apresentou, pois eu bebi-o recentemente e estava muito macio, algo que aqui não se notou, pois a acidez foi a sua imagem de marca, de maneira que comecei por apostar no Dão e acabei nos EUA, mas tinha sido mais inteligente se tivesse ficado quieto, pois de um vinho de Bierzo, elaborado com a casta Mencia, o mais próximo deveria ser um Jaen do Dão, apesar das minhas dificuldades em encontrar no Dão vinhos com a qualidade dos que já bebi desta pequena região de Espanha.
Digamos que globalmente não nos portámos mal, no que às adivinhas diz respeito e fica por falar naquele que foi o MVP da jornada, ainda que tangencialmente, numa luta renhida com o Vale D. Maria e o Kracher.
Para mim foi fantástico ter tido a oportunidade de beber outro Tawny, num espaço de tempo tão curto, que apresentava aquela evolução em garrafa de que o Dirk falava que os Tawnys podem ter. Bom, este, ao contrário do 30 anos que tínhamos bebido recentemente, apresentava claramente essa evolução, assim como apresentou um depósito pouco normal neste tipo de vinhos. Tudo isto com a vantagem extra de neste caso, não haver dúvidas para ninguém: a evolução foi claramente positiva. Nunca se viu tanta gente cantar loas a um Tawny de 10 anos enaltecendo o vinagrinho bem envolto na doçura e untuosidade que ainda apresentava proporcionando um final de boca longo e delicioso. Notável na minha modesta opinião! Fica apenas uma dúvida, será que isto ainda pode acontecer a um 10 anos engarrafado mais recentemente com as técnicas de estabilização do vinho muito mais desenvolvidas? Responda quem souber.
Não posso acabar esta já longa prosa sem contar a forma como esta pérola veio a jogo. O Luís "justificou" a vinda deste jogador extra dizendo que tinha aberto a garrafa no dia anterior, em casa, na companhia da sua pessoa. Achou o vinho extraordinário e resolveu trazê-la para a poder partilhar connosco. Não conheço outro gesto, tão altruísta, para se demonstrar AMIZADE.
OBRIGADO LUÍS.
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