quarta-feira, 7 de março de 2012

Ivy League Especial

Podem não acreditar, mas comecei a escrever esta crónica não tinham passado sequer 24 horas após a realização desta jornada da Ivy League. Uma avaria no computador acabou por repor os tempos habituais de reacção e desta vez com a agravante de ter também perdido as notas que cada seleccionador deu aos vinhos. Restaram as notas de um jogador, as do Orlando. As notas dos restantes convivas (5 no total) que fui recuperando valem o que valem, incluindo as minhas que estando quase certas poderão ter tido uma ou outra troca.

Os mais atentos e que são usualmente convidados para estas jornadas deverão estar a perguntar-se, mas quando é que ele enviou a convocatória? Não enviei. Essa é a resposta e o motivo é simples e quero expô-lo, pois estou convicto que o compreenderão e que fariam o mesmo se estivessem no meu lugar. A mini-vertical de Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa foi finalmente concertada e agendada. Assim sendo, para que ela se realizasse era preciso que os proprietários das ditas estivessem presentes e restariam poucos lugares para os remanescentes. Não me pareceu justo que esses lugares fossem preenchidos pelos que fossem mais rápidos a responder ao desafio, que se soubessem ao que vinham seriam rapidamente preenchidos e sim que fossem ocupados por aqueles que mais têm ajudado a que este projecto (e incluo neste projecto a própria sobrevivência do Quo Vadis?) vá sobrevivendo às sucessivas vagas de pessimismo que minam a nossa sociedade. Infelizmente nem todos os que mereciam ser convidados o puderam ser, pois apesar de ter sido quebrada a regra de ouro de só termos 8 participantes em cada jornada, ela não poderia ser quebrada de uma forma grosseira ou acabaríamos por não ter vinho suficiente para o podermos apreciar como ele merece. Felizmente alguns não puderam ou quiseram vir e ficámos assim 9 participantes, que é um número igualmente atractivo para estes encontros. Número esse que será no futuro várias vezes por motivos diversos e que serão expostos na devida ocasião.

Segue-se então a lista dos jogadores e respectivos seleccionadores:

Mailly L'Air Grand Cru Millésime 2005 – Luís Pereira

Bollinger Special Cuvée – Orlando Costa

Blin's Edition Limitée Brut Rosé – Jorge Silva

Dr. von Bassermann-Jordan Forster Jesuitengarten Riesling trocken 2005 – Jogador 1 do Alexandre Braga

Condessa de Santar 2010 – Isabel Braga

Quinta do Crasto Touriga Nacional 2005 – Jogador 1 do André Antunes

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2005 – Miguel Braga

Quinta do Crasto Vinha da Ponte 2007 – Jogador 2 do André Antunes

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2007 – Pedro Sousa

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2006 – Hildérico Coutinho

Domaine des Schistes La Cerisaie 2007 - Jogador 2 do Alexandre Braga

Uma vez que iriam estar presentes muitos tintos pedi aos restantes que trouxessem champanhe, vinhos brancos ou de sobremesa. Foi o que fizeram, mas apenas os brancos se mostraram à altura dos grandiosos tintos que estavam em prova.

Resolvemos servir os tintos em prova cega, mesmo sabendo que existiam dois intrusos à mini-vertical, mas felizmente ambos do mesmo produtor e igualmente bons, o Touriga Nacional de 2005 e o Vinha da Ponte de 2007. São sempre engraçadas estas provas, quanto mais não seja para demonstrar o que o Alexandre no final resumiu de uma forma notável: “Quanto mais bebemos menos sabemos…”. Se não é uma verdade absoluta, anda lá perto, mas que lida pelo ângulo certo nos traz a certeza de que felizmente muito temos de aprender e por isso muito teremos de ler e por incrível que pareça, melhor ainda, de beber…

A ideia inicial era a de termos só Teresas na mesa, no que a tintos diz respeito, mas a recusa por parte dos dirigentes da Quinta em nos ceder Teresas de outros anos além dos que tínhamos inviabilizou tal desiderato e tivemos assim de respeitar a génese portuguesa e improvisar…

Dos três champanhes o único que para mim mereceu alguma atenção foi o Bollinger (6º lugar) que se distinguiu e foi facilmente reconhecido pelas notas de fermento e amanteigados que apresentava, isto apesar de também os champanhes terem sido servidos em prova cega. Não vamos no entanto contabiliza-los nos acertos porque um era rosé e os outros acabaram por se mostrar demasiado fáceis. Uma nota ao rosé tem de ser dada, pois era tão fora do comum, tão fora, tão fora, que não valia nada (11º lugar e último). Fiquei admirado, pois acho que os brancos desta casa têm uma bela relação qualidade/preço. Este é para esquecer, não é assim Jorge?

Os brancos estavam ambos em bom nível, mas eram tão diferentes que dispensámos a prova cega. O Condessa de Santar, que não apresentei como branco porque seria quase como que um eufemismo, mostra claramente a qualidade a que os vinhos brancos do Dão podem aspirar. Elaborado com cerceal, encruzado e arinto, três castas que muito aprecio, a solo ou acompanhadas, com estágio em madeira de muito bom nível e com presença suficientemente audível mas sem ser barulhenta de mais, com uma mineralidade óbvia e agradável, fruta e flores presentes mas a necessitar de mais atenção para serem devidamente apreciadas. Ficou em 8º lugar, muito próximo do outro branco e do melhor dos champanhes e apenas porque os tintos eram de facto de primeira grandeza. Eu classifiquei-o em 7º lugar logo a seguir ao outro branco, um belíssimo Riesling de Pfalz que ficou classificado ex-aequo com o Bollinger. Já por cá passou a colheita de 2004 deste produtor e está bem mais duro e jovem que este 2005.

Um aparte por estar a escrever numa esplanada do cais de Gaia e estar atrás de mim um senhor dos seus 70 anos que insiste em dançar com a sua mulher uma valsa que ele vai cantarolando com alguma resistência por parte dela, mas que a mim me parece uma bonita imagem…

E vamos então aos tintos que motivaram esta Ivy League especial e que não desiludiram, porventura por terem sido bem tratados com decantações adequadas e temperaturas correctas de serviço. Não desiludiram mas surpreenderam em vários itens. Eu defino-me habitualmente como apreciador de Teresas quando comparados com os da Ponte, mas com a nota que lhe atribuí desta vez vou ter de provar mais Pontes para confirmar ou refutar o que esta prova insinuou (está alguém da Qta do Crasto a ler?). É que eu classifiquei o Ponte em 3º lugar e à frente de dois Teresas, incluindo o do mesmo ano, que é por sinal considerado pela casa como o melhor de todos. Este painel não concordou e deu o primeiro lugar, com pelo menos 4 dos 9 provadores a considerá-lo como o melhor, ao Maria Teresa de 2005. Eu pessoalmente gostei muito também do Touriga Nacional, que estava um autêntico doce líquido, mas que os restantes penalizaram e acabou por ficar em último lugar dos tintos. De notar no entanto que ninguém se atravessou dizendo sem margem para dúvidas que aquele era o Touriga, algo que seria até expectável. O Teresa 2005 soube-me como que um upgrade do TN 2005, pois apresentava o mesmo equilíbrio mas acrescentava complexidade, potência e profundidade. Formidável.

Apesar de ninguém o ter considerado como o melhor vinho da noite, o Ponte acabou por ficar com o segundo lugar por ninguém não ter gostado dele e ficou ou em 2º ou em 3º nas preferências de toda a gente.

O Maria Teresa 2007 foi considerado como o melhor pelo Pedro e pelo André, mas foi muito penalizado pelo 6º lugar geral que o Orlando lhe atribuiu.

O Orlando considerou como melhor o MT de 2006, exactamente aquele que eu considerei como o mais desequilibrado, com a acidez a tornar-se demasiado impositiva. Não deixa de ser estranho, pois eu tinha bebido este vinho há uns 3 meses atrás e tinha-o achado perfeito. O Miguel também gostou dele e deu-lhe o 2º lugar geral.

Para acabar esta crónica falemos do vinho doce que esteve em prova, usualmente considerados como os melhores, mas que este não conseguiu igualar. Trata-se de um vinho tinto doce de Roussillon, nos Pirenéus franceses, bem juntinho a Espanha e elaborado com a casta francesa que tão bem se adaptou a Espanha, a Garnacha ou Grenache Noir, nascida nos terrenos do Ródano. Este vinho tem no entanto 17% de álcool e é por isso bem diferente dos bons vinhos tintos doces que já bebi de Espanha e que esperava ver aqui mais ou menos replicado. Não é nada disso e infelizmente a evolução é negativa e o vinho é de facto bem mais desinteressante. Ficou em 9º lugar e arrisco mesmo a dizer que para fazer isto o melhor é deixarem-se disso e beberem LBV.

Estamos a minutos de começar a Ivy League XXIII e por isso tenho de acabar com isto. Beijinhos e até breve,

Hildérico Coutinho

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